Matéria sobre BH que saiu no jornal The New York Times
De Seth Kugel - NYtimes.com
Belo Horizonte, a capital de Minas Gerais, conseguiu se tornar a terceira maior cidade do Brasil e continuar quase totalmente desconhecida para o mundo exterior. Se os turistas —mais atraídos para os prazeres sensuais do Rio de Janeiro ou a agitação urbana de São Paulo— a conhecem é porque passam por ela a caminho de Ouro Preto e Diamantina, vendo-a mais como uma escala para reabastecimento na rota das pitorescas cidades mineiras da era colonial.
Seu anonimato internacional se explica pela falta de litoral, e portanto de praias, de um carnaval famoso e de grandes atrações, exceto alguns edifícios desenhados por Oscar Niemeyer que empalidecem perto de suas famosas obras de Brasília.
Mas "Beagá", o apelido da cidade, pode reivindicar fama como capital brasileira dos bares. Não bares como nos saguões elegantes de hotéis ou em mercados agitados, mas botecos —lugares informais onde diversas gerações se encontram, se sentam, bebem cerveja e aguardente e muitas vezes fazem uma refeição informal. A se acreditar na propaganda local, a cidade tem 12.000 bares, uma quantidade per capita maior que a de qualquer outra cidade do país. Por quê, ninguém tem certeza absoluta, mas uma teoria se transformou em ditado popular: "Não tem mares, tem bares".
Embora os guias turísticos raramente os mencionem, eles são uma ótima maneira de os viajantes mergulharem na vida social de uma cidade cuja área metropolitana explodiu nas últimas décadas, para mais de 5 milhões de habitantes. A melhor época de visitá-la é em abril, para a competição 'Comida di Buteco', quando cerca de 40 dos melhores bares disputam prêmios em categorias como higiene, cerveja mais gelada, serviço e, principalmente, o melhor tira-gosto. Os vencedores são decididos não apenas por juízes, mas pelo voto público, dando aos moradores uma boa desculpa para sair todas as noites durante um mês.
Se você perder o concurso, não se preocupe. Toda noite do ano parece ter uma clima de festa em Belo Horizonte. Vá até a Mercearia Lili (rua São João Evangelista, 696, Santo Antônio, 31-3296-1951), um participante habitual da competição entre bares. É um dos muitos locais em Santo Antônio, um bairro de alto nível, com ladeiras íngremes que exigem técnicas sobre-humanas de estacionamento, ou, de preferência, use os táxis da cidade.
O bar é típico de muitas maneiras, a começar pelo mobiliário: mesas e cadeiras de plástico amarelo com logotipo de cerveja, que se esparramam pela calçada (garrafas de 600ml de cerveja, a ser compartilhada em pequenos copos, são as preferidas em toda a cidade). O burburinho da conversa e o ruído das garrafas -e não um DJ- fornecem a trilha sonora; homens e mulheres grisalhos e jovens que nos EUA seriam menores de idade compartilham as mesas.
Não muito longe fica o Via Cristina (rua Cristina, 1203, Santo Antônio, 31-3296-8343). É mais elegante, com mesas cobertas de toalhas xadrez verde e brancas, garçons uniformizados e uma parede de cachaças —centenas de garrafas diferentes da aguardente de cana-de-açúcar— que os barmen alcançam usando uma escada como as de bibliotecas. Sua participação no concurso deste ano foi o Raulzito, um bolinho frito recheado de carne-seca que custa R$ 2,00.
Se houvesse um prêmio pelo "Mais Difícil de Chegar", o Freud Bar (sem endereço, Nova Lima, 31-8833-9098, mapa em freudbar.com) ganharia todos os anos. O lugar fica escondido no meio de uma mata perto da cidade, e chega-se lá por uma estrada sinuosa de terra. O bar é construído num morro, aquecido por lareira e tem algumas mesas sob as árvores. Tem música ao vivo (blues e rock) e serve um cardápio limitado, mas criativo, como vinho quente ou uma sopa de abóbora, mussarela e frango (R$ 3,50), uma boa variação da sopa de feijão com toucinho oferecida em quase todos os botecos.
Informal, com suas mesas e cadeiras 'diferenciadas', o Bar do Caixote é um dos muitos botecos de 'Beagá'
Os botecos não são apenas assuntos noturnos, como você descobrirá se for ao Mercado Central da cidade numa tarde de fim de semana. Claro, há barracas que vendem frutas, carne, os famosos queijos de Minas, cães e aves vivos (para mascotes) e galinhas vivas (para jantar). Mas o mercado também é cheio de bares lotados e barulhentos como o Lumapa, onde as autoridades precisam cercar com correntes a calçada para que os clientes do mercado possam circular. Uma opção mais calma é o Casa Cheia (Mercado Central, loja 167, Centro, 31-3274-9585), um lugar com mesas que serve criações como o Mexidoido Chapado, uma mistura de arroz, legumes, quatro tipos de carne e ovos de codorna.
Também vale a pena ir aos bairros mais distantes para ver algumas versões mais excêntricas de bares. (Com 11.999 concorrentes, faz-se o possível para se destacar.) O ultra-informal Bar do Caixote (rua Nogueira da Gama, 189, João Pinheiro, 31-3376-3010) tem mesas e cadeiras feitas de caixotes de madeira. O vencedor geral do concurso deste ano, o Bar do Véio (rua Itaguaí, 406, Caiçara, 31-3415-8455), fica num bairro distante e o motorista de táxi pode ter dificuldade para encontrá-lo, mas qualquer pessoa na região poderá lhe indicar. Seu prato simples de pedaços de carne de porco com bolinhas douradas de batata frita, servido com molho de abacaxi e hortelã, foi o tira-gosto vencedor de 2007.
Quando você precisar de um descanso dos bares, faça um passeio à tarde ao bairro da Pampulha, onde há vários edifícios de Niemeyer, incluindo sua famosa Igreja de São Francisco de Assis. O bairro também abriga o mais famoso restaurante de Belo Horizonte, o Xapuri (rua Mandacaru, 260, Pampulha, 31-3496-6198), o melhor da cidade para experimentar a tradicional cozinha 'caipira' de Minas Gerais. E no domingo de manhã você pode encontrar presentes incomuns na 'feira hippie' (ou Feira de Arte e Artesanato da Afonso Pena), dois longos quarteirões da avenida Afonso Pena cheios de roupas, jóias, artigos de decoração e artesanato. Quando terminar, pare nas barracas nas duas extremidades para comer peixe frito ou doces de coco, ou entre para descansar no maravilhoso Parque Municipal, logo abaixo da feira. Em qualquer um deles você não estará longe de um vendedor ambulante pronto para lhe abrir uma lata de cerveja. Em Belo Horizonte, o mundo é um bar.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
BH é o lugar :)
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Now playing: Metallica - And Justice For All
via FoxyTunes
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Belo Horizonte, uma cidade onde o mundo é um bar
Postado por Raquel Marcadores: Belo Horizonte
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2 comentários:
Que massa!
Viva a nossa "roça" agora international...
Um abraço
Belo Horizonte é uma daquelas cidadezinhas como as do interior da Bahia que vive a à procura de alguma desculpa para existir. Tão famosos como a suposta vida gastronômica que supostamente é a atração da cidade é a necessidade de hiperbolizar alguma coisa simplesmente para afastar o horror de morar em um lugar tão grande mas que nada tem a oferecer. históricamente tínhamos uma sapataria na Savassi que tinha 27 cadeiras: "a maior da américa latina"... "o maior estádio (coberto do mundo)"... "campeões do gelo"... o mais infame de todos é esse suposto título mundial de capital dos "botecos". O que são esse botecos? Estabelecimentozinhos que geralmente servem cerveja barata quente e uma comida horrível, coisas como moela de galinha com jiló ou dobradinha (no resto do brasil é bucho, ensopado de estômago de boi ou porco?). Esses estabelecimentos fecham antes da meia noite, são frequentados por homens feios e malvestidos, mulheres de uniforme (em Belo Horizonte todas as mulheres vestem a mesma roupa) em proporção de gang-bang: considera-se uma noite boa quando temos 1 mulher para cada 8 homens nesses lugares. Nesse lugar todos os números são hiperbólicos exceto aos que tocam ao senso de ridículo de quem vive aqui.
Muito Obrigado;
Rodrigo Zauli.
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